O passado debaixo dos pés

Subterrâneos de velhas construções escondem (ou revelam) verdadeiros tesouros que contam parte da história da cidade e do Estado

qua, 28/11/2012 - 10h16 | Do Portal do Governo

Quem passeia pelas ruas de São Paulo fica encantado com as construções, particularmente com as do centro da cidade. No entanto, o que muitos desconhecem é que, em alguns prédios, os subterrâneos escondem verdadeiros tesouros e a história do município e, também, a do Estado. É o caso do prédio da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, localizado no Pátio do Colégio, projetado pelo engenheiro e arquiteto paulistano Francisco de Paula Ramos de Azevedo, entre 1881 e 1891. A secretaria ocupa dois prédios (nºs 148 e 184) desde 1997, cada um com três andares e com arquitetura em estilo neoclássico.

O imóvel de nº 184 teve a pedra fundamental lançada no dia 7 de setembro de 1881 e foi inaugurado em 9 de março de 1891 para abrigar a Secretaria da Fazenda e do Tesouro. Antes de ser ocupado pela Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, abrigou a Caixa Econômica Estadual e o Tribunal de Alçada. O outro, o de n° 148, foi criado para ser originalmente a sede da Secretaria da Agricultura. Apesar de ser mais novo e de obedecer ao mesmo programa arquitetônico do primeiro edifício é o mais ornamentado e revela maior preocupação com a suntuosidade.

No subsolo do prédio 184 existem duas portas-cofres que serviram à Secretaria da Fazenda e do Tesouro, primeira instituição a ocupar o local. “Nos antigos cofres ingleses – que guardavam os títulos do Tesouro paulista – hoje funciona o almoxarifado da secretaria”, explica Vanilda Costa, bibliotecária da pasta. Outro lugar interessante aberto ao público é a biblioteca da secretaria. Também situada no Pátio do Colégio, 148, oferece mais de 10 mil volumes sobre Direito Administrativo, Direito Constitucional e Direitos Humanos, além de 50 mil títulos de revistas.

Nas prateleiras, é possível observar a forma de organização e recuperação de informação do final do século 19. Uma das raridades é o Código Commercial do Brazil (escrito com z mesmo) de 1896, com capa de pergaminho. “Na biblioteca havia uma passagem subterrânea que ligava os dois prédios a outros pontos turísticos do centro, como a Igreja Padre Anchieta e o Solar da Marquesa”, informa Vanilda. A biblioteca é aberta ao público somente para consultas e recebe, mensalmente, cerca de 50 visitas de estudantes de Direito, procuradores e secretários de Estado. “Por causa da demanda por informações on-line, estamos nos preparando para a estruturação do acervo digital”, diz a bibliotecária.

Mergulho na história

Camaradas! Ides marchar para o Estado da Bahia onde haverá árduos combates. O texto que reproduz a ordem para marchar para a Campanha de Canudos (1897) está descrito na página 70 do Livro de ouro – espécie de diário. É uma das peças mais interessantes para pesquisadores e está entre as muitas relíquias que o 1º Batalhão de Polícia de Choque conserva em suas instalações. O Quartel da Luz, construído entre 1888 e 1892, abriga o pelotão da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar).

Começou a ser construído em 1888 e só foi finalizado em 1892. No dia 1º de dezembro de 1891, o prédio foi ocupado por tropas da polícia. O Batalhão Tobias de Aguiar foi o terceiro quartel construído no então Corpo Policial Permanente. Projeto também de Ramos de Azevedo (1851-1928) é inspirado na arquitetura militar francesa. É a réplica de um quartel da Legião Estrangeira Francesa, no Marrocos. Em seu subsolo há uma rede de túneis que faziam ligações com os quartéis vizinhos e com a estação ferroviária. O material para sua construção veio de diversas partes do mundo: telhas da França, tijolos da Itália e pinho-de-riga, da Letônia.

Em cada canto do prédio podem-se ver estátuas como a da Legalidade, idealizada pelo escultor Vicente Larocca, em homenagem à Revolução de 1924. Feita de bronze, ficou durante muitos anos do lado de fora do prédio e só foi retirada durante a construção do metrô. Retornou novamente em 2010 e está instalada, agora, no interior do edifício. Entretanto, um dos verdadeiros tesouros está no subsolo do batalhão. Trata-se de uma rede de túneis, utilizada para ligar um quartel ao outro em caso de ataques. “Hoje, serve de museu, garantindo a permanência de algumas lembranças históricas que marcaram o País”, explica a soldado PM Alessandra.

Além disso, há várias fotografias que começam a contar a história da unidade para o visitante. Atualmente, o prédio é patrimônio histórico e está tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat). No mesmo local, há uma chaminé que traz marcas de disparos de canhões em quatro pontos e que serviu de referencial durante a Revolução de 1924.