Metrô: Trabalho de higiene é considerado de padrão internacional

Mais de 20 pessoas operam noite e dia controlando a infestação de ratos e insetos

ter, 16/05/2006 - 8h48 | Do Portal do Governo

Em 1975, um bichinho de pouco mais de 200 gramas quase parou a cidade: um rato roeu um cabo subterrâneo de 22 mil volts, causando fogo na via (trilhos) do Metrô de São Paulo e interrompeu a circulação dos trens. Foi nesse ano que o médico veterinário Angelo Boggio começou a trabalhar como higienista, profissional que cuida do controle das pragas urbanas (ratos, baratas, aranhas e escorpiões) no sistema metroviário. Mais de 30 anos depois, ele e suas equipes reduziram em 90% a quantidade desses bichos, que causam transtornos ao patrimônio da empresa e aos passageiros.

“Limpeza é transferir a sujeira de um lugar para outro. Asseio é manter o ambiente limpo. Higiene é a freqüência das duas ações.” Esse é o lema que Boggio sempre seguiu. O resultado é que a desinsetização e a desratização nas inúmeras dependências do Metrô são consideradas padrão em higiene no mundo. A empresa recebe constantes visitas de técnicos de outros países, interessados em conhecer os segredos do perfeito controle da disseminação das pragas.

Vieram a São Paulo pessoas que trabalham nos metrôs de cidades da Argentina e da Rússia. Estiveram aqui também representantes da Comet, associação que congrega dez companhias de metrô no mundo, entre elas a de São Paulo. Boggio comanda 26 pessoas que se dedicam noite e dia, ininterruptamente, à manutenção da higiene em 60,5 quilômetros de vias, 53 estações do sistema, três pátios de manobra de trens, prédios administrativos e operacionais, salas de máquinas e em outras instalações da companhia. Os locais predeterminados recebem a visita dos “exterminadores” de rato a cada 60 dias. Para controlar os insetos, o período é de 90 dias. Nas áreas consideradas alimentícias (cozinhas, refeitórios e armazenagem de comida) do Metrô e de suas empreiteiras, os trabalhos de higienização ocorrem mensalmente.

Dente por dente

O rato penetra nas instalações do Metrô através das canalizações subterrâneas dos esgotos da cidade. Roedor insaciável, destrói a camada plástica de fios e cabos até deixar o condutor metálico (o cobre) a descoberto. É tudo de que a eletricidade precisa para provocar o fenômeno do curto-circuito. Por não ter um osso similar à omoplata no ombro, o rato penetra em qualquer buraco em que sua cabeça couber.

O animal não morde a fiação por estar com fome. Boggio explica que ele precisa desbastar seus dentes constantemente porque crescem muito e podem até matá-lo. “A força de sua mordida é descomunal”, afirma. Segundo o veterinário, equivale à pressão de 500 quilos por centímetro quadrado. É capaz de atacar até chapas de aço-carbono. Depois de tantos anos de labuta, o higienista e seus comandados sabem de cor os trechos mais infestados por roedores nas linhas férreas do Metrô em operação. São mais assíduos nas proximidades das estações Tietê, por causa do rio, Barra Funda e Guaianazes.

O engenheiro mecânico Igor Baria, chefe de manutenção da via permanente da Linha 3 (Barra Funda – Corinthians-Itaquera), conta que, nesses pontos, o procedimento previsto tem de ser às vezes alterado, e o período de 60 dias, reduzido. “São locais mais propícios ao aumento populacional dos animais e precisamos agir com maior rigor”, justifica Baria. O transtorno do curto-circuito ocorre em quaisquer dependências, principalmente em prédios e residências. Boggio lembra que determinada seguradora apurou certa vez que 60% dos casos de incêndios residenciais e comerciais são causados pela avidez do roedor em conter o crescimento de seus dentes. São três espécies de ratos presentes na cidade, que tentam furar o bloqueio sanitário montado por Boggio e suas equipes. O camundongo é o menor deles, com aproximadamente 20 gramas de peso. Depois vêm o rato-de-forro (250 gramas) e o maior, a ratazana, que alcança 800 gramas.

Anel sanitário

A turma que corre atrás dos bichos no Metrô é dividida em seis equipes, geralmente de quatro pessoas. Cada uma trabalha num lugar diferente. Seis dos funcionários são efetivos e os demais pertencem a empresa contratada para executar o serviço. Durante o dia, alguns trabalham em prédios da companhia e nos três pátios de manobra (Jabaquara, Belém e Itaquera). Nas vias e estações, só podem atuar madrugada adentro, entre 1 hora e 4h40. Durante esse período, os trens param de circular e a energia dos trilhos é cortada, para a aplicação dos produtos contra ratos e insetos. É quando a companhia realiza também todos os outros tipos de manutenção, para que as composições voltem a transportar os passageiros com normalidade e segurança na manhã seguinte.

Também percorrem o chamado anel sanitário, definição para as faixas laterais, formadas a partir de 50 ou 100 metros de ambos os lados das vias. Esses espaços abrangem ruas, terrenos baldios e construções. Para evitar que os roedores cheguem ao sistema do Metrô, as equipes aplicam o raticida em bocas-de-lobo e canalizações de esgoto. “Protegemos, assim, o Metrô e suas vizinhanças”, enfatiza Boggio. O produto químico utilizado para exterminar os ratos é uma isca peletizada (em forma de pequenos cilindros de um centímetro de tamanho). O princípio ativo do produto químico é um anticoagulante. Ao ingerir, o roedor perde sangue e morre por hemorragia.

O período de 60 dias para desratização é explicado por Boggio. Em cada ninhada de rato nascem em média oito filhotes, 60% dos quais fêmeas. Mais ou menos dois meses depois, estão aptas a procriar. “Por isso é fundamental que nosso trabalho seja organizado e dinâmico, para manter o controle. Os ratos podem se expandir em proporção de progressão geométrica (PG)”, diz. Para combater os insetos, principalmente as baratas, os funcionários aplicam produtos químicos em forma líquida e em gel. A primeira, por aspersão, não pode ser usada em fiações, por isso é borrifada geralmente no chão, frestas, em estações, vias e casas de máquinas. A outra, aplicada por bisnaga, é ideal para fios e cabos, móveis como mesas, cadeiras, etc.

Uma das sujeiras mais comuns em esgotos é o acúmulo de gordura, que atrai as baratas. O fato acaba convidando também ratos e escorpiões que vão atrás para devorar os insetos. Por isso, os produtos inseticidas usados nas dependências do Metrô contêm em sua fórmula uma bactéria e uma enzima que destroem a gordura e liberam nitrogênio no ambiente. O gás não é tolerado pelas baratas, que se afastam. O engenheiro Igor Baria informa que a maior dificuldade no trabalho de suas equipes de desinsetização e desratização refere-se à violência urbana, quando estão no anel sanitário, fora das instalações do Metrô. “Como todos os paulistanos, convivemos com esse perigo, no momento em que atuamos nas ruas”, explica. Por duas vezes foram abordados na madrugada por assaltantes nas imediações das estações Itaquera e Patriarca.

Da Agência Imprensa Oficial