USP: Troca de conhecimento traria maior mobilidade para o meio universitário

Essa troca entre pesquisadores de diferentes áreas resultaria em melhores produções científicas e num ensino mais abrangente

sex, 09/06/2006 - 20h29 | Do Portal do Governo

No Instituto de Psicologia (IP) da USP uma pesquisa de mestrado detectou no ambiente acadêmico uma grande dificuldade de integração entre as diferentes áreas do conhecimento. O estudo propõe a “inter ou transdisciplinaridade” e o constante diálogo entre pesquisadores na tentativa de ampliar as visões e os enfoques dos temas estudados.

Por meio de mapeamentos de dispersão na Psicologia, na Sociologia e na Antropologia, o psicólogo Reinaldo Koei Yonamine buscou identificar critérios para avaliar a maior ou menor possibilidade de integração e diálogo em diferentes áreas. De acordo com ele, o mundo coorporativo já vem há algum tempo valorizando a integração de saberes específicos, mas isso ainda é um entrave principalmente nas universidades.

“No ambiente universitário não há integrações efetivas, os indicadores são voltados para a produção individual”, argumenta o psicólogo. O cenário é de pesquisas que caminham sem nenhuma troca, “o máximo que ocorre é a consulta sobre assuntos de outras áreas, mas não o trabalho conjunto, inter ou transdisciplinar”. E isso reflete também no ensino, que é focado em disciplinas muito específicas, fechadas por fronteiras institucionais.

Segundo o pesquisador, no meio acadêmico existem as barreiras institucionais, políticas, ideológicas, “além da linguagem e certa vaidade”. Tais obstáculos à quebra de fronteiras disciplinares levam a uma fragmentação do conhecimento, que poderia até ser benéfica para a sociedade se houvesse diálogo entre diversas áreas. Como resultado de tamanha compartimentação, Yonamine aponta uma “produção de conhecimentos artificiais e inócuos.”

Por meio de entrevistas com responsáveis por projetos de transformação organizacional (presidente de empresa, consultor de reestruturação, consultor de cultura organizacional, diretor de instituição de ensino superior, executivos de multinacionais), o pesquisador percebeu que a maneira como eles lidaram com as diferenças (de formação, pontos de vista, cultura empresarial) era muito semelhante. “A tendência simplista é buscar a homogeneização, mas as reestruturações bem-sucedidas são as que respeitam as divergências e as integram, ao invés de anular quem destoe.”

Sobre a “inter ou transdisciplinaridade”, o psicólogo diz que muitos acreditam ser uma utopia, mas indo nessa direção é possível obter melhores resultados. Yonamine cita um exemplo próximo – o projeto Poli 2015, da Escola Politécnica da USP. O objetivo principal do projeto é definir o tipo de engenheiro que a sociedade deseja que a escola forme e a escola adequada a essa formação. A iniciativa foi desenvolvida com a participação de públicos heterogêneos (docentes e pesquisadores de diversas especializações, representantes de instituições e associações de classe, alunos, ex-alunos, diretores de outras escolas de engenharia, docentes de outras faculdades da USP).

Renata Moraes

Da Agência USP