Instituto de Zootecnia completa 101 anos como referência na área de pesquisa do país

Localizado no município de Nova Odessa, região de Campinas, o instituto é vinculado a Secretaria da Agricultura do Estado

ter, 04/07/2006 - 9h01 | Do Portal do Governo

Desenvolver pesquisas em melhoramento genético de raças de gado Zebu e Caracu, pastagens especiais, reprodução animal, produção e qualidade de carne e leite e sistemas de gerenciamento de dados, essas são as principais atividades desenvolvidas atualmente pelo Instituto de Zootecnia que completa 101 anos de existência neste mês de julho.

Localizado no município de Nova Odessa, região de Campinas, o instituto é vinculado a Secretaria da Agricultura do Estado e sua história caminha paralela ao município, pois teve início dois meses após a fundação da cidade, em 1905.

O IZ vem realizando trabalhos com balanceamento de rações para bovinos leiteiros, análise de sementes e minerais, identificação de plantas, produção animal a pasto, análises microbiológicas de leite.

Realizou uma extensa coleta de leguminosas em todo o Brasil e esse banco de variedades constitui um importante núcleo de pesquisa que originou variedades de capim como o Aruanã, o Guaçu, utilizado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) para a produção de biomassa, Yarana e Guatá, leguminosa líder na produção de sementes.

Outro trabalho importante realizado pelo instituto é a conservação de forrageiras (capim para pasto) e orientação de uso de fertilizantes. Com o objetivo de  melhorar a qualidade da carne, o IZ desenvolve projetos para maximizar a produção e produtividade animal a pasto. No setor da ovinocultura, o instituto desenvolveu um sistema de criação intensiva de ovinos super precoces com ganho de peso utilizando pastos com alta produtividade e valor nutritivos. Também na área de gramados esportivos, o instituto está realizando pesquisas para melhoria desse tipo de solo.

O laboratório de Análises Bromatológicas e de Minerais recebeu o certificado de controle de qualidade, com aprovação no Programa Interlaboratorial de Controle de Qualidade de Análise de Tecido Vegetal. Assim terá o direito ao uso de selos de controle de qualidade no ano de 2006.

Além disso, o Instituto e a empresa Itograss fecharam um contrato para a validação de cultivar para registro junto ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Outra atividade importante foi a ativação da unidade de suínos que recebeu no início deste ano 216  leitões machos e fêmeas para o projeto “Teste de exigências Nutricionais de leitões desmamados”.

Atualmente possui um rebanho de 3.900 animais e oferece tecnologia de suporte na área de pecuária de corte e leite, com desenvolvimento científico e tecnológico, para maior produtividade dessas cadeias produtivas e seus derivados. O IZ está numa área com cerca de 8,9 km² (878 hectares), sendo que 65% da área está localizada em Nova Odessa e 35% em Americana, interior do Estado e de alguma maneira, o instituto está presente no cotidiano dos cidadãos paulistas seja pelo bife do almoço, o leite do café da manhã, o sapato, cinto ou bolsa, melhorando a qualidade de vida das pessoas através de diversas pesquisas científicas.

Confira a entrevista com Paulo Bardauil Alcântara, diretor e pesquisador do Instituto de Zootecnia, casado, 54 anos, dos quais 30 dedicados ao instituto.

O Instituto de Zootecnia (IZ) completa 101 anos agora em julho, como a instituição é vista dentro da área de pesquisa no Brasil?

Mais de cem anos de história pesa na instituição de qualquer País e o IZ é um dos três únicos institutos do mundo que trabalha com todos os segmentos animais. Os outros estão na Inglaterra e Nova Zelândia. No Brasil, a maioria trabalha só com ovinos ou bovinos e a diversidade do IZ dá um status bastante diferenciado possibilitando que os fundamentos das pesquisas sejam de exclusividade nossa. Além disso, o instituto é tradicional em provas de ganho de peso e na participação de animais em leilões.

Como o IZ atua na área acadêmica?

            Todos os pesquisadores da Embrapa, que é uma organização federal de pesquisa, fizeram estágios no IZ, durante um bom tempo. Além disso, temos uma ligação muito grande com a USP quem mantém cursos de pós-graduação.

Oferecemos estágios curriculares e serviços profissionalizantes e como temos 8 mil cabeças de gados e 9 mil hectares, os alunos vêem para cá e aprendem na prática o que estudaram nas salas de aula.

Quais as pesquisas mais importantes desenvolvidas atualmente pelo instituto?

Temos um programa para melhoramento genético de gado Zebu desenvolvido na fazenda em Sertãozinho por três anos consecutivos e com ganho de qualidade incorporado ao gen do animal. Nós temos quase três mil animais nesse projeto que utiliza as espécies Nelore, Guzerá, Gir e Caracu. 

Todo mês de outubro há uma prova onde participam nossos animais e de particulares para avaliação da qualidade do gado. Depois há um leilão enorme em Sertãozinho onde saem animais muito valiosos em termos genéticos e por preços acessíveis. O melhor Zebu do Brasil e provavelmente do mundo é o do Estado de São Paulo.

Nossa proposta é ter um produto de boa qualidade a preço acessível para melhorar o rebanho do Estado paulista. Não é intenção vender animais a preços exorbitantes que chegam a R$ 40 mil em alguns leilões.

Temos ainda aqui em Nova Odessa um programa de produção intensiva de ovinos (ovelhas, carneiros) que reduz a aplicação de fermifugos nos animais para uma vez por ano diferente de outros países onde são aplicados três vezes anualmente.

Quais as pesquisas na área de pastagens?

Um dos programas mais importantes desenvolvidos aqui é o programa de melhoramento genético de forrageiras (capim para pasto). No mundo inteiro o IZ é a única instituição que está fazendo cruzamento híbrido de leguminosas forrageiras complementado com a melhoria de gramíneas também para pastagens.

Outra pesquisa importante é eliminação de metano, pois poucas pessoas sabem, mas um dos vilões do efeito estufa é a população bovina, que elimina uma grande quantidade de gás pela respiração. Esse projeto está na fase inicial de medição, posteriormente serão utilizamos equipamentos especiais de controle no gado.

Paralelamente estamos fazendo palestras científicas sobre o desenvolvimento de gramas para eventos esportivos, como pólo, tênis e golf. Temos um contato muito grande com a Itogress que é o maior fornecedor de gramas do mundo. Para se ter uma idéia da importância desse tema, o empresário norte-americano Donald Trumph comprou uma área aqui na região em Itatiba para construir um complexo para a prática do golf.

Você citou as pesquisas com leguminosas nas pastagens. Quais as vantagens desse método?

A base da pastagem brasileira e do mundo é a gramínea (capim). Para produzir capim é necessário adubo nitrogenado e a maior parte dele é derivado de  petróleo. Além de ser altamente poluente o adubo está vinculado ao preço do petróleo, ou seja, sobe o barril, sobre o preço do adubo.  

As leguminosas (parecidas com grãos de feijão) são plantas que são fontes de adubação hidrogenada e fixam o nitrogênio do ar, necessário para o desenvolvimento do capim e de graça. Evidente que são plantas de menor produção do que o adubo nitrogenado, mas quando colocamos leguminosas no pasto não queremos apenas que ela aumente a produção do pasto, mas sim fixar o nitrogênio para o pasto sem nenhum custo.

Fizemos um estudo que apontou que o pasto nitrogenado com leguminosa propicia uma economia de R$ 167 por hectare com relação ao adubado com nitrogênio.

Qual o papel de São Paulo no setor de criação de gado do País?

São Paulo é o maior Estado em abate e processamento de cortes especiais e tem os maiores frigoríficos do País. É um grande produtor de tecnologia e pesquisas de ponta. Em termos de criação de gado, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul são os maiores produtores do Brasil.

Qual o ganho direto para a população de todas as pesquisas desenvolvidas pelo IZ?

Todos os programas que desenvolvemos se baseiam no ganho de qualidade.  A dona de casa que compra o ovo, o bife, o frango e o sapato, muitas vezes não tem idéia que houve um trabalho de pesquisa durante muitos anos que possibilitasse a qualidade daquele produto e com preços bastante acessíveis.

A minha ênfase aqui no IZ é que o Estado sempre deve atuar onde a iniciativa privada não está. Por dois motivos: Ou porque as empresas não tem competência ou porque não é interessante para elas, aí o Estado deve entrar.

Como está estruturado hoje o Instituto de Zootecnia?

Em Nova Odessa a sede tem 878 hectares e em Sertãozinho mais de 2.000 hectares. São 12 estações experimentais vinculados ao instituto com 9 mil hectares. Hoje temos 34 fazendas de pesquisa pertencentes a Secretaria da Agricultura. No total são mais ou menos 15 mil hectares disponíveis para a pesquisa na área agrícola e de zootecnia. Temos cinco centros técnicos: de forrageiras, avançado de gado leiteiro, zootecnia diversificada (ovinos, caprinos, bicho da seda), genética e reprodução e um centro avançado de gado de corte, além da área administrativa. São ao todo cerca de 300 funcionários trabalhando junto ao instituto.

Como o IZ se mantém funcionando atualmente?

Os salários dos funcionários são pagos com verbas do Estado. Fora o salário temos recursos de  R$ 1,2 milhão para o instituto funcionar durante o ano inteiro, são gastos com despesas e serviços terceirizados. Temos ainda outras fontes financiadoras como a Fapesp, Cnpq, Finep e fundações auxiliares. Essas fundações possibilitam o IZ fazer contratos com empresas privadas.

Por exemplo, no caso da pesquisa do capim mulato que estamos testando para a empresa mexicana Papalotla, a Fundag fez a intermediação.  Eles pagam a fundação e esta repassa o valor para o instituto. Temos contratos com empresas de sementes de forrageiras, de gramas esportivas.

No Brasil, a Lei de Proteção de Cultivares é uma patente vegetal, ou seja, o Ministério da Agricultura só autoriza a entrada de determinados produtos se tiverem essa certificação. Então, as empresas vem aqui testar e certificar esses produtos, que precisam da validação de uma instituição isenta e a empresa ter a patente e poder cobrar royalties. Além do IZ, outras instituições também realizam esse trabalho no País.

Quais os principais problemas enfrentados hoje pelo instituto?

O grande gargalo hoje é a falta de pessoal de apoio, ou seja, o trabalhador braçal. Nós precisamos dele para manejar e prender o gado, tratar do animal, reparar cercas, distribuir sal para alimentação. Faz 10 anos ou mais que não é feito concurso público para essa qualificação. Esse pessoal é extremamente necessário, sem eles o instituto não anda. O problema é que muitos se aposentaram, outros morreram e alguns saíram.

Na área de pesquisa o Estado fez um grande concurso para pesquisador científico com mais de 170 profissionais da área técnica, todos com mestrado e doutorado, mas pessoal de apoio não.

O segundo problema é orçamento. Mesmo assim vendemos gados reprodutores e com isso conseguimos um fundo para ter uma maior flexibilidade no orçamento. O IZ foi o único instituto da Secretaria da Agricultura que conseguiu comprar quatro veículos com recursos próprios. Uma das dificuldades na negociação de gado pelo Estado é que o valor para venda e compra deve ser à vista, enquanto outras empresas parcelam em até 12 vezes. Mesmo assim nossa filosofia de trabalho não é vender boi para a classe A, mas vender o boi para o pequeno produtor e disseminar os grandes reprodutores.

Como o senhor avalia as pesquisas na área de Zootecnia no País?

Estive na Austrália recentemente e pude constatar que o Brasil está no mesmo patamar de outros países, no enfoque tecnológico, propostas de pesquisa e capacitação dos técnicos. Mas precisamos melhorar os modelos jurídicos do setor, pois é um modelo ultrapassado e muito engessado. Não conseguimos dinamismo para acompanhar as demandas.

Quais as perspectivas para o futuro do IZ?

Ainda temos alguns entraves para conseguir recursos junto à Fapesp. Por exemplo, eles analisam um projeto do IZ e outro de algum instituto vinculado à USP ou Unicamp. Nós levamos uma desvantagem muito grande porque o professor universitário tem 10 ou 12 orientados que fazem mestrado e doutorado e produzem no mínimo um artigo científico por ano. O pesquisador do IZ tem que produzir o artigo, tocar o projeto, analisar e redigir. Nas universidades quem faz todo esse processo é o aluno e o professor no máximo corrige. Quando chega na Fapesp nosso projeto é avaliado como baixa produção científica, pois temos um ou dois trabalhos produzidos enquanto nas universidades são 12 ou 13.

Mas sou uma pessoa muito otimista por convicção e estou há 30 anos trabalhando aqui. O Instituto de Zootecnia tem tudo para decolar e a ação do governo em contratar pesquisadores com no mínimo mestrado coloca o instituto numa posição única dentro do País.  Agora podemos competir em igualdade com as principais universidades do Estado na busca de recursos junto às fundações de pesquisa.

Carlos Prado